Texto: Nathalia Alesse
A doença renal crônica (DRC) é uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e é caracterizada pela perda gradual e irreversível da função dos rins. Em grande parte dos casos, ela não apresenta sinais ou sintomas nos estágios iniciais. E é aí que mora o perigo. Descobrir a DRC na condição mais grave fará com que o paciente necessite realizar tratamento de diálise ou transplante renal. Por isso, é fundamental ficar em dia com os exames de rotina para acompanhar o funcionamento dos rins.
Os rins desempenham várias funções importantes no corpo humano, como regular a pressão arterial, filtrar o sangue, eliminar toxinas do corpo, controlar o equilíbrio de sal e água no organismo, além de produzir hormônios que previnem a anemia e doenças ósseas. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia, o número de pessoas com DRC aumenta a cada ano. Cerca de 20 milhões de brasileiros têm alguma disfunção renal e, atualmente, mais de 150 mil pacientes já realizam diálise no país.
Segundo o médico nefrologista da Fundação Pró-Renal e presidente da Sociedade Paranaense de Nefrologia, René Scalet dos Santos Neto, quando os sinais da DRC aparecem, a função dos rins já pode estar comprometida, dificultando o tratamento. Isso acontece porque os rins possuem uma grande capacidade de compensação funcional, então ele mantém a sua função mesmo quando há danos progressivos.
Diante desse cenário, é fundamental prestar atenção em algumas alterações. “Alguns sinais e sintomas em específicos podem indicar um problema renal, como: inchaço nos tornozelos, nos pés e no rosto, especialmente ao acordar; alterações na urina como espuma excessiva, mudanças na cor ou na frequência urinária; pressão arterial alterada sem uma causa aparente; cansaço e fraqueza sem explicação clara; coceira na pele e sensação de ressecamento; náuseas e perda de apetite em estágios mais avançados”, explica o médico.
Fatores de risco para desenvolvimento da DRC
Os principais condicionantes de risco da doença renal crônica são a hipertensão arterial e o diabetes mellitus. Isso porque a pressão alta descontrolada pode sobrecarregar os rins, levando à perda progressiva da sua função, enquanto o excesso de glicose no sangue danifica os vasos renais, causando a nefropatia diabética. Outras possíveis ameaças incluem histórico familiar de doença renal, uso crônico de anti-inflamatórios sem acompanhamento médico, obesidade, tabagismo, consumo excessivo de álcool e doenças autoimunes, como o lúpus.
A importância do diagnóstico precoce
Manter a saúde do corpo também contribui para a proteção dos rins. Monitorar os fatores de risco e ficar em dia com os exames são algumas das formas de prevenir a progressão da perda da função renal e garantir uma boa qualidade de vida.
Ainda segundo René Scalet os principais exames para a detecção precoce da doença renal crônica são a creatinina sérica e a estimativa da taxa de filtração glomerular, que avaliam a função dos rins. “Também realizamos o exame de urina tipo 1, que detecta a presença de proteínas ou sangue, e a relação albumina-creatinina urinária (uACR), que identifica perda de proteína na urina”, destaca. Quanto à frequência dos exames, o especialista alerta: “Para pessoas sem fatores de risco, o ideal é realizá-los anualmente a partir dos 40 anos. Já para aqueles que possuem risco aumentado, o acompanhamento deve ser mais frequente, conforme orientação médica.”
Impactos do diagnóstico tardio da DRC
A doença renal crônica pode evoluir para quadros graves e irreversíveis. Conforme a função renal vai diminuindo, o organismo acumula toxinas e resíduos no sangue, o que pode resultar em sintomas como fadiga intensa, náuseas, confusão mental e até coma.
O médico nefrologista explica que “se a DRC não for diagnosticada e tratada precocemente pode levar a algumas complicações graves, como hipertensão descontrolada, que pode aumentar o risco de infarto e AVC; presença de anemia devido à redução da produção de eritropoetina (EPO) pelos rins (os rins produzem esse hormônio que ajuda na produção dos glóbulos vermelhos); doença óssea que é causada pelo distúrbio do metabolismo do cálcio e do fósforo; acúmulo de toxinas no sangue, que é o que chamamos de uremia, resultando em fadiga, náuseas, confusão mental; e até mesmo o paciente podendo evoluir para o coma e complicações cardiovasculares, já que a DRC aumenta de forma significativa o risco de doenças do coração”.
Tratamento
O tratamento da doença renal crônica varia conforme o estágio da doença. Ainda segundo René Scalet, nos estágios iniciais o foco é retardar a progressão da doença e controlar os fatores de risco. Isso inclui controle rigoroso da pressão arterial e do diabetes, dieta equilibrada com redução do consumo de sal, proteínas em excesso e alimentos ricos em fósforo, além da interrupção do tabagismo e da moderação no consumo de álcool.
Já nos estágios mais avançados, medidas mais rigorosas podem ser necessárias. “Pode ser preciso ajustar ainda mais a dieta, utilizar bicarbonato de sódio para correção da acidose e, em alguns casos, iniciar diálise ou considerar o transplante renal”, explica o médico.
É importante sempre destacar que a doença renal crônica é silenciosa e pode evoluir por anos sem sintomas evidentes. Por isso, o diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações graves. Realizar exames preventivos regularmente, principalmente para quem tem fatores de risco, é a melhor forma de proteger a saúde renal.
Se você tem hipertensão, diabetes ou outros indicadores de vulnerabilidade, procure um médico e faça exames de rotina. Cuidar dos rins hoje pode evitar problemas sérios no futuro.
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