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Literatura em casa
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Leituras afetivas: cinco livros por Alex Andrade

O Sesc Paraná conversou com o escritor e arte-educador Alex Andrade. Leitor voraz e autor de obras que passeiam entre diversos gêneros literários, Andrade compartilhou algumas das leituras que melhor resumem a sua formação. São obras múltiplas e que ajudam a formar um grande mosaico criativo e literário.

Leia abaixo as indicações literárias de Alex Andrade

Uma aprendizagem ou O Livro dos prazeres – Clarice Lispector

Como tudo em Clarice, este livro é um mergulho na alma humana. É o processo de amadurecimento de Lóri, uma mulher que desaprendeu  a vergonha que tinha sobre o próprio corpo e sobre os seus desejos mais íntimos. A escrita de Clarice me seduziu cedo, pelo seu tom introspectivo, intimista, quando ela apresenta o mundo através da crise existencial do Homem, sua consciência e inconsciência. Clarice, apesar de toda a aura misteriosa que ronda a sua figura, desmistifica a sua escrita: “Não tem pessoas que cosem para fora, eu coso para dentro.”

A Vida privada das árvoresAlejandro Zambra

Zambra é um desses escritores que se deve conhecer a sua obra.  A forma como a sua escrita toca a realidade profunda que vivemos é direta e incisiva.  Este livro é extremamente poético e desenvolve um paralelo entre o tempo, as angústias e nuances   do personagem, que requer um leitor atento, intenso, capaz de captar o sentido histórico e político dessa narrativa, com uma fina ironia,  um leve humor, sem perder o real sentido que a arte tem.

Trilogia suja de Havana – Pedro Juan Gutierrez

O meu primeiro contato com a literatura de Pedro Juan Gutierrez foi com esse livro, em 2001.

A escrita de Pedro Juan é capaz de despertar aversão no leitor. Denso e profano, descreve uma realidade brutal e repugnante dos idos anos 90 em Cuba, durante o boicote econômico imposto pelos Estados Unidos. No livro tem de tudo um pouco, miséria, fome, desbocada, atrevida, viadagem, prostituição. Mas nota-se um escritor de mão cheia e que capta a atenção para a leitura do livro. Depois desse, li todos de Pedro Juan Gutierrez.

Bom crioulo – Adolfo Caminha

Adolfo Caminha publicou este clássico do romance naturalista brasileiro em 1895. De uma coragem impressionante, audacioso e muito bem escrito. Fora o burburinho e a polêmica causada na época, a literatura de Caminha é extremamente necessária e com muita energia, tanto que o livro foi relançado há pouco tempo, com enorme sucesso.

Vidas secas – Graciliano Ramos

Não poderia deixar de lado um dos meus preferidos da literatura brasileira, Vidas secas. Um dos livros mais emblemáticos da nossa literatura, a narrativa pungente de Graciliano Ramos denuncia as condições desumanas em que vivem os retirantes da seca nordestina, sem que percam o fio tênue de esperança de alcançar a realização existencial.

É um dos livros mais lindos e desconcertantes que já li, por ter sido publicado em 1938, e ainda assim representar o homem nordestino dos dias de hoje, com toda a miséria e sofrimento que assola o povo brasileiro.

Sobre Alex Andrade

Alex Andrade é escritor e arte-educador. Publicou os romances Antes que Deus me esqueça e Longe dos olhos, os livros de contos Poema, Amores, truques e outras versões e As horas, os infantis A história do menino, A menina e a sapatilha / O menino e a chuteira, A galinha malcriada, O pequeno Hamlet e O gigante. Participou de diversas coletâneas de contos, faz parte da curadoria do Prêmio Literário de Ensino Fundamental do Rio de Janeiro,  e atuou no projeto de incentivo à leitura para crianças e jovens das Escolas Municipais do Rio de Janeiro, Praça da Leitura.