No mês de março, o projeto Sesc Mulheres chegou à sua 5ª edição, reafirmando seu compromisso em destacar e valorizar a rica e indispensável contribuição das mulheres para a construção sociocultural do país. Entre os dias 8 e 15 deste mês, diversas ações foram realizadas nas unidades do Sesc da Esquina, em Curitiba; Sesc Londrina Cadeião e Sesc Pato Branco, promovendo debates, palestras, oficinas e apresentações artísticas que colocam as mulheres no centro da cena cultural.
“O Sesc Mulheres é um projeto que surgiu em 2021, durante a pandemia, como uma resposta ao momento desafiador que vivíamos. Inicialmente, as edições eram realizadas exclusivamente on-line. Com o tempo, o projeto cresceu e se consolidou, passando a integrar uma programação diversificada e abrangente. O Sesc Mulheres busca refletir essa diversidade, ampliando os diálogos e valorizando a pluralidade de experiências e trajetórias femininas, contemplando mulheres negras, produtoras, artistas e pesquisadoras, sempre com o compromisso de fortalecer a representatividade e a troca de saberes”, pontuou o analista de Cultura do Sesc PR, Cleber Pereira Borges.
Uma das atividades de destaque foi a palestra “Impasses da Mulher Hoje”, com a psicanalista e escritora Maria Homem, realizada na sexta-feira (11), no Teatro do Sesc da Esquina. Ela trouxe uma abordagem provo cativa sobre a condição feminina na sociedade atual, abordando questões como maternidade, identidade, desejos e as angústias contemporâneas.
“Vivemos um momento de transição permanente, e isso se reflete no corpo, na mente, no cotidiano. É um momento difícil quando tomamos consciência das barreiras, dos tetos de vidro, das amarras e até do próprio piso que nos prende. Começamos de baixo, e o caminho é árduo.
A gente olha para isso e pensa: ‘Que difícil!’, mas seguimos na luta. Com essa consciência, reconhecemos o machismo, a misoginia, o feminicídio. Não se trata apenas de silenciar corpos, mas também de apagar obras, histórias e legados. No entanto, ao identificarmos essas injustiças, começamos a questioná-las e a transformá-las. Isso significa que estamos mudando a forma como concebemos a história”, observou.
Para ela é um processo desafiador, mas também necessário. “Durante séculos, muitas violências foram naturalizadas. Sofríamos sem sequer compreender, ficávamos paralisadas e éramos rotuladas como loucas ou histéricas – como Freud ouviu de tantas mulheres no século XIX. Mas aquele foi o início de um despertar. O século XX foi marcado por lutas e revoluções. Agora, no século XXI, seguimos complementando essas tarefas. Toda mudança desloca poderes: quando alguém ganha protagonismo, alguém perde. Estamos vivendo a construção de novos lugares simbólicos, ressignificando espaços e narrativas”, enfatizou.
Além da palestra, o Sesc Mulheres contou com diversas atividades conduzidas por mulheres que são referência em suas áreas. A programação incluiu as oficina “Escrever a Si”, com a poeta, tradutora e editora Lubi Prates; “Jazz Funk”, ministrada pela Expressão Mix Escola de Dança e Teatro; “Lambe-Lambe para assumir uma linguagem”, com a artista visual Bruna Alcântara; “Carimbos e Estamparia Manual”, com Bruna Valente.
Também integrou a programação o espetáculo teatral “Também guardamos pedras aqui”, com a poeta, atriz e slammer Luiza Romão, e a leitura dramatizada de “Calendário da Pedra”, com a atriz Denise Stoklos, referência no teatro contemporâneo brasileiro.
O evento proporcionou momentos musicais, como a apresentação de Tulipa Ruiz e Gustavo Chagas, no projeto Conversa & Canção, com Marcelo Pacheco, no sábado (15), no Teatro do Sesc da Esquina. No bate–papo realizado antes da apresentação, Tulipa destacou a importância de eventos como o Sesc Mulheres na difusão da arte produzida por mulheres: “Criar espaços onde a voz feminina tem protagonismo é essencial. É um convite para que possamos nos ouvir, trocar experiências e construir novas narrativas”. A cantora também ressaltou que sua trajetória musical se entrelaça com a busca por autonomia e liberdade criativa: “A música me deu uma voz própria, um lugar de expressão sem filtros, e isso é revolucionário”.