No dia 5 de junho, às 19h, o Sesc Pato Branco será palco de um bate-papo incrível mediado pelo jornalista Nelson da Luz Jr. com a escritora Tatiana Lazzarotto e a psicóloga Tuani Savaris. O evento marca o lançamento do primeiro romance da escritora seguido de sessão de autógrafo.
Quantas lembranças atravessam um corpo enlutado? O que fazer com o desejo de nossos mortos? Em sua estreia, Tatiana Lazzarotto nos apresenta, em prosa poética, o desenrolar de uma notícia de morte. É também uma história sobre um pai, uma filha e uma árvore. Um deles está morto. Os outros dois terão de sobreviver.
O romance “Quando as árvores morrem” (Editora Claraboia, 164 p.) acompanha o desenrolar de uma notícia de morte e as memórias que atravessam o corpo de quem fica. A obra foi uma das vencedoras do edital ProAC de obras de ficção, promovido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
Na história, narrada em primeira pessoa, a protagonista perde o pai de forma repentina e retorna a Província – cidade fictícia –, para atender aos desejos deixados por ele: recuperar a casa da família e garantir que a velha árvore do quintal, já condenada, não seja derrubada.
Ao mesclar a experiência do luto com as memórias de infância, a narradora relembra a trajetória do pai, que deixou a profissão de comerciante quando ela e os irmãos eram crianças, para se transformar em Papai Noel profissional. O romance busca esmiuçar um personagem pouco visível na literatura, além de lançar um olhar sobre os milhares de homens que encarnam o personagem mítico no fim do ano: de que maneira esses profissionais se relacionam na intimidade, com suas famílias?
É a partir das memórias, suscitadas pela casa vazia e pelo próprio estar de abandono, que a narradora, já adulta, desconstrói o pai morto. “A autora nos prende nessa jornada em busca da permanência. ‘Quando as árvores morrem’ não é apenas um livro sobre luto, mas um desejo de memória potente”, afirma a poeta e doutoranda em Teoria Literária pela Unicamp, Pilar Bu.
A cidade, que representa um vilarejo de fronteira no Sul do Brasil, e a casa da família tornam-se personagens da trama, assim como a árvore condenada. Para produzir o romance, a autora dedicou-se à pesquisa sobre o desenvolvimento e a inteligência das árvores, a fim de entender a dinâmica das florestas e como isso se mescla com o cotidiano de uma família.
O livro também é uma experiência ficcional a partir de uma vivência de luto da escritora. Assim como a personagem, Tatiana perdeu o pai, falecido em 2018, que durante sua trajetória quebrou recordes nacionais como Papai Noel. “Se a matéria da perda é dura, o livro nos faz entrar nesse clã de mulheres que perderam o pai, mas conservaram o afeto, pela partilha de uma linguagem sensível, poética, instigante”, conclui Pilar.
Além de honrar a memória do seu pai, grande incentivador da sua escrita, o livro tem como missão poder abraçar quem fica. “Especialmente num luto coletivo como este que vivemos, acredito que este abraço, que eu busco com o livro, não se estende apenas aos que perderam alguém. Mas a todos nós”, aponta Tatiana. “Também é um livro sobre pessoas que não cabem, pessoas que transbordam. As duas experiências se confundem. Perder alguém também é não caber.”
Tatiana Lazzarotto nasceu em São Lourenço do Oeste (SC), em 1985. Faz parte do Clube da Escrita para Mulheres, criado por Jarid Arraes, e publicou em revistas literárias antes de estrear em livro. É mestranda em Estudos Culturais e uma das organizadoras de Cartas de uma pandemia: Testemunhos de um ano de quarentena (2021). Vive em São Paulo (SP).