O projeto “Cotidiano a bordar” consiste em pensamentos bordados em objetos de uma vida ordinária. Objetos tão banais, mas também pessoais e símbolos de um tempo, como o celular, o absorvente e a bula de remédio.
As mensagens bordadas estão relacionadas às funções desses objetos e brincam com as semânticas e as metáforas as quais remetem, transmitindo ironia, sarcasmo e leituras diversas. De forma intuitiva e por meio de livre associação, o projeto tem como repertório o conhecimento popular, valoriza a síntese poética e evidencia as questões vivenciadas pela artista.
A relação que a artista tem com a sociedade de consumo sempre foi contraditória. Formada em publicidade, trabalhou por 15 anos em multinacionais que priorizam a produção em massa, o incentivo ao consumo exacerbado e a banalização dos objetos produzidos. O trabalho proporcionava retorno financeiro e reconhecimento ao mesmo tempo que gerava conflitos morais insustentáveis.
Ao produzir a série de objetos de “Cotidiano a bordar” surge a oportunidade de trabalhar o seu deslocamento anterior, costurando mensagens que tentam fazer as pazes com seu passado e ao mesmo tempo questionar o mercado da arte, tão restritivo e cheio de regras veladas.
A apropriação de objetos, tirados do contexto e das suas funcionalidades com a intenção de elevá-los à categoria de arte, claramente estabelece um diálogo com o ready-made de Duchamp e as práticas do dadaísmo. Já o uso da linha pode ser lido como um resgate da memória afetiva e do feminino.
Por se tratar de objetos tão medíocres que estão presentes no dia a dia da maioria das pessoas, as obras geram sensação de proximidade, mas, ao mesmo tempo, estranheza pelas mensagens bordadas. Assim, convidam o espectador, de forma leve e divertida, a refletir sobre sua relação com esses objetos, e consequentemente sobre o seu consumo e a própria sociedade.