No imaginário londrinense, a figura do pioneiro aparece como o grande herói da fundação da cidade. Nesta narrativa liberal da história, o pioneiro é aquele que enfrentou o sertão bruto e venceu, por conta de sua determinação e vontade. A história de sucesso desses homens representaria a própria história do progresso da cidade, que em poucas décadas deixou de ser um acampamento improvisado na mata, para se transformar na Capital Mundial do Café.
Hoje em dia, essa figura do self-made man hiperativo anda esgotada, deprimida e transtornada como analisa o filósofo Byung-Chul Han, no livro Sociedade do Cansaço. Como um contraponto ao herói hiperativo do passado, podemos imaginar a figura anti-heróica do melancólico.
O homem melancólico, segundo o filósofo Walter Benjamin, vê assombrado o mundo tal como ele é. Não se ilude com as alegrias do marketing nem com as promessas de transformação do mundo capitalista, produtor de riquezas e de misérias também. Neste momento de mudanças ou de declínio da cidade que completa 90 anos, o melancólico pode desempenhar uma função estabilizadora, tal como indicou o escritor e médico Moacyr Scliar. A figura soturna e reflexiva, envolvida pelo pesado ar do fracasso, ainda é capaz de respirar e contemplar a imperfeição do mundo e dos homens. O melancólico respira, apesar de tudo; da peste, dos desmandos autoritários, das inúmeras faces da miséria e da injustiça humana. E respirar pode ser o recomeço.
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Tony Hara é formado em Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina, mestre em História pela Universidade Federal do Paraná(1997) e fez o doutorado e o pós-doutorado em História da Cultura na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Tem experiência na área de História com ênfase em Teoria e Filosofia da História, atuando principalmente nos temas da História da Cultura, Subjetividade, Filosofia na Literatura, Poesia, Literatura Moderna e Historiografia.
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(foto de Fabio Alcover)
