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Literatura em casa
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Leituras afetivas: cinco livros por Rodrigo Tadeu Gonçalves

O Sesc Paraná conversou com o escritor, tradutor e diretor da Editora UFPR, Rodrigo Tadeu Gonçalves, que indicou (mais de) cinco obras que ajudaram a moldá-lo como leitor e autor.

São obras que vão do clássico ao contemporâneo, que revisitam gêneros variados e criam um grande passeio pelos bosques da literatura – como diria Umberto Eco.

Leia abaixo as indicações literárias de Rodrigo Tadeu Gonçalves

Escolher só cinco livros pra desenhar um percurso formativo é tarefa quase impossível para quem vive entre livros e faz da leitura sua vida e seu sustento. Especialmente porque a lista pode ser enorme e as chances de cometer injustiças são igualmente enormes. Contudo, a lista da queridíssima e maravilhosa Luci Collin me fez lembrar de livros que ficaram no passado e fundaram meu gosto e minha vida. Assim, como homenagem a ela, que certamente deveria estar em minha lista (leiam A Peça intocada, por exemplo!), traço um percurso parecido mais ou menos cronológico.

As Aventuras de Xisto – Lucia Machado de Almeida

Um dos livros da Coleção Vagalume, que criou o gosto pela leitura em tanta gente da minha geração, esse pequeno romance infanto-juvenil despertou em mim um desejo de ler ficção. Mais tarde, “As brumas de Avalon” de Marion Zimmer Bradley, “A Demanda do Santo Graal” e “A Divina Comédia” de Dante Alighieri pavimentaram o que eu nem sabia que seria minha profissão: professor de letras clássicas. Vindo de uma família que tinha poucos recursos e poucos livros, a Coleção Vagalume estava nas bibliotecas de escola e fazia muitos de nós felizes. Sem que eu soubesse na época, Lucia Machado de Almeida me ensinou a ser leitor. Hoje tenho o livro, de capa rasgada, comprado muitos anos depois na Estante Virtual.

O Hobbit – J. R. R. Tolkien

Ganhei O Hobbit de uma amiga querida ainda no segundo grau (como chamava o ensino médio na época) e li muitas vezes esse romance que, embora para muitos pareça só fantasia (afinal, a partir dele Tolkien criou o universo de literatura fantástica possivelmente mais famoso de todos, além de línguas, topografias, e uma legião de fãs), para mim é quase que um modelo de romance, uma reescrita da “Odisseia”, um romance de formação, ao mesmo tempo infanto-juvenil e adulto, e extremamente bonito. Guardo várias edições junto com o “Xisto” para quando minhas filhas passarem dos livros infantis para as maravilhas da ficção.

The Odyssey – Homero (tradução de Emily Wilson)

Homero é Homero. Cliché inevitável, autor e obra insuperáveis, atemporais, cheios de virtudes e falhas, longínquos e atuais. Mas o livro que menciono aqui não é qualquer Homero. Depois de ler Homero em muitas traduções e muitas línguas, a tradução de Emily Wilson, em pentâmetros jâmbicos não rimados e lindos, me tocou profundamente e virou um dos livros da minha vida. Além disso, saí por aí falando sobre Emily Wilson como tradutora e sobre sua tradução como a que, para mim, é o melhor Homero que já li.

Café da manhã dos campeões – Kurt Vonnegut

Conheci Vonnegut já bem tarde, com quase 40 anos de idade, e sua prosa me deixou desconcertado. Já era fã de carteirinha de Pynchon e Auster, mas vergonhosamente não tinha lido Vonnegut ainda. Por sorte, Rogerio Pereira me pediu uma resenha do “Café da manhã” e do “Matadouro 5”, que li, devorei, amei, mas o tempo escasso e uma doença me impediram de resenhar. Fica aqui, porém, o agradecimento ao destino por ter me mostrado um dos maiores prosadores que já li, profundamente irônico, complexo, pungente, mas absolutamente acessível e maravilhoso.

Não está mais aqui quem falou – Noemi Jaffe / As miniaturas – Andréa Del Fuego / Diário da queda – Michel Laub  / Todo esse amor que inventamos para nós – Raimundo Neto

Chegando mais perto de hoje, para não ser injusto com a produção brasileira contemporânea, que mereceria estar aqui, não tive como escolher só um livro, e precisei colocar aqui logo quatro. Porque são maravilhosos, incontornáveis, inventivos, prazerosos e profundamente inspiradores.

Sobre Rodrigo Tadeu Gonçalves

Rodrigo Tadeu Gonçalves é professor, editor, tradutor e poeta. Publicou recentemente seu segundo livro de poesia, Canto enforcado em vento (Ed. Kotter, 2020), um ensaio, Relativismo linguístico ou como a língua influencia o pensamento (Ed. Vozes, 2020) e uma tradução, Os Adelfos de Terêncio (Ed. Autêntica, 2020). Sua tradução de De Rerum Natura de Lucrécio sai pela Autêntica em breve.