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Literatura em casa
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Leituras afetivas: cinco livros por Matheus Peleteiro

O escritor baiano Matheus Peleteiro é um dos grandes nomes da nova geração. Desde de seu romance de estreia, Mundo cão, Peleteiro explora um universo inóspito para conjugar as complexidades da natureza humana.

O Sesc Paraná conversou com Peleteiro, que compartilhou algumas das obras que ajudaram a moldá-lo como leitor e como escritor.

Leia abaixo as cinco indicações literárias de Matheus Peleteiro

O Amor é tudo que nós dissemos que não era – Charles Bukowski

Bukowski foi a minha porta de entrada para a literatura. Se não tivesse tido contato com a sua obra, por influência do seriado Californication, não acredito que teria me tornado escritor ou sequer leitor. Entretanto, foi preciso mais de um livro seu para que em mim fosse despertado o interesse. Numa primeira tentativa, peguei o seu romance Misto-quente, depois tentei o Mulheres, mas nenhum dos dois me fez querer concluir a leitura. Li boa parte da sua obra compulsivamente, até chegar à trilogia traduzida por Fernando Koproski e me encantar com a sua poesia, que me trouxe uma perspectiva totalmente diferente da que me havia sido apresentada no colégio e na vida. Após, parti para algumas das suas referências e até reli Misto-quente, dessa vez, com um interesse diferente: tentar compreender a formação do escritor por trás da máscara.

Notas do subsolo – Fiódor Dostoiévski

Percebendo a admiração de Bukowski pelos russos e por Dostoiévski, em especial, pesquisei sobre o autor e decidi introduzi-lo na minha vida a partir de Notas do subsolo. Uma escolha muito feliz. Hoje, mesmo tendo lido alguns dos seus calhamaços e dos livros mais finos, continuo tendo ele como preferido. Apesar das ideias apresentadas terem despertado o meu interesse, foi a sua narrativa, em tom de monólogo, o que me fascinou. Desde então, tenho lido livros com propostas parecidas e me encantado da mesma maneira, pondo-os quase sempre no rol de preferidos. A Queda, de Albert Camus e Uma confissão, de Liév Tolstói são exemplos disso.

E do meio do mundo prostituto, só amores guardei ao meu charuto – Rubem Fonseca

Li Rubem Fonseca por acidente. No período em que me formava como leitor, interessado em conhecer mais da literatura brasileira, a minha namorada, desejando recomendar o Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva, recomendou Feliz ano novo, de “Rubens alguma coisa”, rs. Numa bienal, comprei o livro (Feliz ano novo) de Rubem Fonseca e, por conta das promoções, acabei adquirindo também o box com E do meio do mundo prostituto, só amores guardei ao meu charuto e Histórias de amor. Este foi o melhor equivoco literário de que já fiz parte. Decidi iniciar com o primeiro do box, por conta do título atraente, e logo nas primeiras páginas me convenci de que a literatura brasileira não devia nada a ninguém, de país nenhum. O tom genuíno para tratar a violência urbana, o humor ácido e debochado, a filosofia introduzida em diálogos triviais… Descobrir Rubem Fonseca me aproximou da literatura brasileira e fez com que me sentisse abraçado por ela.

Sidarta – Herman Hesse

Mergulhado num mar de ceticismo após ter contato com as obras de autores como Nietzsche, Dostoiévski, Bukowski, Cioran, Beckett e Camus – que, apesar de bem humorado, não deixa de carregar um fatalismo mordaz –, descobrir o trabalho de Herman Hesse foi uma verdadeira alegria. O ar contido em sua obra, que costumo chamar de fatalismo otimista, passou a me acompanhar desde que li Sidarta, seguido por Demian, e me deparei com a ideia da vida como um caminho em direção a si mesmo. Sei que boa parte dos escritores é tocada por O Lobo da estepe com maior intensidade, mas Harry Haller soou para mim como um insuportável sujeito ressentido, enquanto Sidarta me trouxe aquele prazeroso vigor que preenche o âmago.

O Retrato De Dorian Gray – Oscar Wilde

Poucos livros me tiraram o sono. Encarei O Mito de Sisifo tarde demais, A Metamorfose só me causou angústia, mas, O Retrato de Dorian Gray, este foi o responsável por compreender o que Belchior queria dizer quando cantou que “palavras são navalhas”. As falas de Lord Henry – que considero um dos maiores personagens da literatura –, me puseram em conflito interno, de maneira que, a cada fala sua, me flagrei confrontando os meus próprios valores. Acredito que este é o maior papel que um livro pode desempenhar para um leitor. Afinal, como questionou Kafka: se o livro que estamos lendo não nos desperta como um soco no crânio, por que perder tempo lendo-o?

Sobre Matheus Peleteiro

Nascido em Salvador – BA em 1995, escritor, bacharel em direito e tradutor, Matheus Peleteiro publicou em 2015 o seu primeiro romance, Mundo Cão, pela editora Novo Século. Após, lançou a novela intitulada Notas de um Megalomaníaco Minimalista (editora Giostri, 2016); o livro de poemas Tudo Que Arde Em Minha Garganta Sem Voz (editora Penalux, 2016); a coletânea de contos Pro Inferno com Isso (Edição do Autor, 2017); a distopia satírica O Ditador Honesto (Edição do Autor, 2018), e, em 2019, a coletânea poética intitulada Nossos Corações Brincam de Telefone sem Fio. Além disso, em 2018, assinou, ao lado do tradutor Edivaldo Ferreira, a tradução do livro A Alma Dança em Seu Berço (Editora Penalux), do premiado autor dinamarquês, Niels Hav.