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Leituras afetivas: cinco livros por Fábio Quill

O Sesc Paraná conversou com o escritor, quadrinista e muralista Fábio Quill. Conhecido por sua obra gráfica, Quill também escreve contos e é um leitor capaz de passear entre diversos gêneros. As suas Leituras Afetivas deixam claro esse percurso e apontam as inúmeras possibilidades da literatura, seja ela na música, em um texto clássico ou mesmo nos quadrinhos.

Leia abaixo as cinco indicações literárias de Fábio Quill

Nada Como Um Dia Após o Outro Dia – Racionais

Não é um livro, mas eu não poderia ignorar a arte da palavra oral contida no rap. A construção das narrativas em entonação poética, as sentenças curtas e viscerais, a cadência das palavras e a busca por “não desperdiçar uma linha”, como costumam dizer os rappers, formaram minha escrita e maneiras de pensar minha produção.

 O Homem Que Foi Quinta-feira – C.K. Chesterton

Foi o livro que me mostrou o poder que tem a palavra, começando pelo título da obra. Traduzido em uma das edições brasileiras como O Homem Que Foi Quinta-feira, e em outra como O Homem Que Era Quinta-feira, a troca de um única palavra altera completamente a sugestão do título em relação a trama. Enquanto a palavra “foi”, que condiz com a trama e indica que em algum momento o homem esteve na posição de quinta feira, a palavra “era” estabelece que o homem sempre esteve naquela posição, mudando o entendimento da jornada daquele personagem, que se tornou um dia da semana.

Diomedes – Lourenço Mutarelli

Poderia falar de outras obras do autor, mas acredito que Diomedes carrega muito do estilo do Lourenço, subvertendo a construção de um personagem que na função de detetive nunca resolveu um vaso na vida, e embebendo a narrativa em nuances do comportamento humano que o afastam personagem do glamour heróico e de caráter bidimensional, armadilhas que o gênero pode impor, trazendo a experiência imersiva para o leitor. É uma obra que também rompe com o status quo da produção da época que focava muito no humor e no infantil

As Formigas – Lygia Fagundes Telles

Também não é um livro, mas quero destacar como um conto é capaz de mostrar o que há de mais afiado na produção literária. Lygia corta profundo, três noites e dois dias cabem na média de seis páginas. O paradoxo das personagens que estudam direito e medicina experimentando o medo através do terror e do fantástico já no início da narrativa, quando a casa demonstra inabilidade em dar boas vindas não as impedem de se hospedar, e aquela carranca é só o presságio do que está por vir, não se furtando de ainda no final dar um leve “eu avisei”.

Sheraz-De – Sergio Toppi

Meu primeiro contato com esse autor foi com uma edição desse livro em espanhol. Toppi confirmou algo que eu vinha observando, autores fora do eixo estadunidense e espacialmente na década de 70 são mais modernos do que muitos autores contemporâneos. O volume das imagens ganha profundidade com as hachuras precisas. O espaço branco usado como composição e narrativa, equilibrando o preto do nanquim e o texto que prioriza sempre o essencial, abriram meus olhos para novos horizontes e possibilidades gráficas e textuais que uma obra de quadrinhos é capaz de entregar.

Sobre Fábio Quill

Fábio Quill é autor de quadrinhos e muralista, nasceu na periferia de São Paulo e radicou-se em Campo Grande – MS. Publicou os primeiros contos em formato de fanzine em 2014, e as HQs Janela da Alma (2014), Onírica (2017) e Amálgama (2019), seu quinto trabalho independente.