O dia 18 de julho de 1975 ficou marcado na história de Londrina e do Paraná pela grande geada que devastou os cafezais do Norte do estado e mudou, de maneira significativa, a economia, a cultura, a sociedade e a vida da população local e regional. Para relembrar esta história, o Sesc Londrina Cadeião, o Museu do Café e a Prefeitura de Londrina promoveram uma intensa programação.
O professor Dr. Rogério Ivano abriu a programação com um bate-papo sobre o romance do café, falou sobre personagens fictícios e reais da literatura e da história cafeeira no Brasil e no Paraná, o impacto do ciclo econômico do café na cidade e no estado, identidade nacional, memória, ruína material e simbólica. Na sequência, o grupo Regional Flor do Café, formado por músicos de Londrina, dedicados à presença e à vivência da música instrumental brasileira, trouxe clássicos de roda de choro, passando por composições de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, músicas próprias e de compositores contemporâneos como Hamilton de Holanda.

Na manhã de sábado, um café da manhã foi servido aos convidados e visitantes, que puderam acompanhar pioneiros, cafeicultores e moradores de Londrina compartilhando histórias sobre suas vivências na grande geada de 1975.

Os presentes acompanharam o descerramento de uma placa alusiva ao cinquentenário da Grande Geada, que será fixada no Museu do Café, com o seguinte texto: “Londrina, Histórica Capital Mundial do Café! Momento que marcou para sempre e transformou os rumos do município. Homenagem a todos, do campo e da cidade, que enfrentaram o inverno trágico de 1975 e reergueram a vida com coragem e resiliência”.

O prefeito de Londrina, Tiago Amaral, lembrou que a história do café se confunde com a do Paraná e, segundo ele, a força econômica do estado deve-se, também, à Região Norte do estado e às transformações que o campo sofreu pós-geada de 1975. “Precisamos trazer à memória, mostrar a grandeza desta cidade, uma das mais importantes do país. Nós tivemos o título de capital mundial do café e tenho a impressão de que muitas vezes queremos esquecer desse fato triste e marcante que foi a geada de 1975. Não é possível que a gente não entenda o valor histórico que o café teve e tem para nossa cidade e região. A lembrança desse dia é importante para olharmos para frente e continuarmos em movimento”, destacou Amaral.
Em seguida os convidados realizaram o plantio de 50 mudas de pé de café no canteiro central da Rodovia Leste-Oeste, em frente ao Sesc Londrina Cadeião. “Cada uma dessas mudas foi plantada por pessoas que viveram aquele período, que passaram por aquele momento, algumas personalidades e representantes de entidades que marcaram essa história incrível do café”.

Em seguida, a barista do Senac PR, Gabriela Carla Santos, ministrou um workshop sobre cafés especiais, destacando diferentes tipos de grãos, filtros e técnicas de preparo. O secretário municipal de Planejamento, Marcos Rambalducci, e o assessor estratégico do Instituto de Desenvolvimento de Londrina (Codel), Rodrigo Martins, ministraram uma palestra sobre o desenvolvimento da cidade, os potenciais e o planejamento dos próximos passos.
À tarde, das 15h às 15h30, o Núcleo de Produção Teatral do Sesc Londrina Cadeião apresentou a intervenção Memórias da Geada. A encenação mostrou a história de Londrina e fez um mergulho no impacto da Geada Negra de 1975 no Norte do estado, além de um convite para revisitar memórias, afetos e transformações vividas antes, durante e depois do fenômeno que marcou a região.
A programação no domingo teve início às 10h, com uma visita guiada ao Centro Histórico de Londrina, visitando pontos simbólicos do centro da cidade, como o calçadão, a Catedral Metropolitana, o Edifício América, conhecido pelo “Relojão”, que foi palco de importantes negociações no auge da cultura cafeeira. A visita também passou pela antiga Rodoviária, atual Museu de Artes, e pela Concha Acústica, espaços que guardam camadas de memória da vida urbana londrinense.
À tarde foi a vez da exibição do documentário Ouro Verde, Memórias da Cidade do Café e o público pôde acompanhar um bate-papo com o diretor e idealizador, o jornalista Fábio Cavazotti. Com produção da Filmes do Leste, o documentário foi lançado em 2015 e contou a história do café e, por meio dela, a própria história da criação e crescimento de Londrina e de diversas cidades da região.
Já o ensaio performático Ressoa Cine – A música que coloca Londrina, cinema e história em ressonância, foi uma oportunidade de unir imagem e som em uma experiência sensorial única: a sonorização ao vivo de cenas do curta-metragem O Vagabundo [The Vagabond], de Charles Chaplin, em diálogo com a poética dos filmes de Hikoma Udihara.
Além disso, o público que visitar o Museu do Café até 30 de julho poderá acompanhar a exposição As vozes da Alvorada – Irmãos Santiago, que conta histórias que estavam guardadas apenas no imaginário daqueles que chegaram para ajudar a construir a cidade de Londrina. As peças da exposição, produzidas em papel machê, foram produzidas pelos irmãos Simone, Liliane e Fábio. E quem visitar o Museu do Café até 9 de agosto poderá visitar a exposição Geada 50 Anos de Memória. Por meio de uma instalação artística que busca reconstruir poeticamente um marco histórico profundo, os visitantes vivenciam a memória de maneira íntima, sensível e coletiva, com elementos visuais e sensoriais. Mais do que narrar fatos, a proposta é despertar sentimentos, provocar lembranças e reconectar o presente às marcas deixadas pela grande geada – que transformou paisagens, rotinas e afetos.