O jornalista e escritor Cristiano Castilho é um leitor ímpar, que navega entre os diversos mares da literatura, mas que, de um jeito ou de outro, desemboca nos limites entre o real e o fantástico.
E hoje, Castilho é o convidado do Sesc Paraná para compartilhar as suas leituras afetivas, aqueles livros que ajudaram a moldá-lo como leitor e como escritor.
Leia abaixo as cinco indicações literárias de Cristiano Castilho
É tarefa das mais desafiadoras fazer qualquer tipo de lista afetiva, todos sabem. Mas o bacana da brincadeira é exatamente este: colocar meu sujeito leitor contra a parede (ou contra o espelho?) para que dele, não sem surpresas, saiam livros que se manifestem em sua essência. Decidi elencar as obras de forma cronológica. Assim, estes são livros que me foram importantes, em diversos momentos, por diversos motivos. Não há uma avaliação crítica individual, o que vale aqui é o conjunto.
Cem anos de solidão – Gabriel García Márquez
Tenho uma ligação afetiva muito grande com este livro. Li em poucos dias no meu quarto, quando era piá, quando o mundo ainda era em preto e branco. Fiquei absolutamente deslumbrado com a possibilidade inédita da suplementação da realidade – ou de sua compreensão mais profunda, por meio de causos fantásticos e de personagens-amigos. Gabo era um grande sujeito, suas coletâneas jornalísticas também me cativaram um bocado.
A Máquina de Fazer espanhóis – Valter Hugo Mãe
Incrível livro sobre a solidão política. A história do barbeiro oitentão desiludido que vai parar num asilo, mas não se rende. Sua memória insiste em dar novos rumos à vida, que continua de uma maneira ou de outra. Foi meu primeiro contato com a prosa poética do escritor angolano radicado em Portugal Valter Hugo Mãe. Admiro sua capacidade de edição. Tudo o que ele escreve é inequívoco, saboroso e sensível.
Esse inferno vai acabar – Humberto Werneck
Já tinha algum contato com as crônicas do Werneck, exemplo maior dos grandes cronistas brasileiros que surgiram na década de 1970, mas este livro foi importante para desenvolver as minhas próprias, ainda na época de Gazeta do Povo. Personagens impagáveis descritos com rara sensibilidade, humor cotidiano não-afetado, consciência política e pequenas doses de absurdo estão aí, mais necessárias do que nunca.
Minha luta: a morte do pai – Karl Ove Knausgaard
Primeiro tomo da saga Minha Luta, que tem seis livros enormes sobre a própria vida do autor norueguês. É difícil justificar a escolha desta obra, já que são mais de 400 páginas sobre a existência ordinária de um anônimo. Mas chuto que seja por isso mesmo. É uma narrativa tão rica em detalhes, tão honesta, reveladora, visceral, companheira e por vezes filosoficamente digressiva, que considero o Karl um amigo que ainda não conheci. O comparam com Proust. Mas não é isso. É outra coisa.
Viva a música! – Andrés Caicedo
Um livro de beleza trágica, e de exuberância e insanidade necessárias. O colombiano Andrés Caicedo recebeu as cópias da editora e de pronto se matou, aos 25 anos. Viva a Música! é uma viagem onírica e lisérgica pelas ruas alucinadas de Cali na companhia de María del Carmen. Viva a Música! me serve ainda hoje para relembrar que outro mundo é possível, se o deixarem acontecer.
Sobre Cristiano Castilho
Cristiano Castilho nasceu em Curitiba, no carnaval de 1984. É jornalista formado pela UFPR e pós-graduado em jornalismo literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL). Em 2019, lançou o livro Crônicas da cidade inventada e outras pequenas histórias (Arte & Letra). Trabalhou como repórter, editor e colunista no jornal Gazeta do Povo. Hoje, colabora com jornal Plural, e é produtor e apresentador na Rádio Paraná Educativa.