Texto: Silvia Bocchese de Lima
Neste primeiro trimestre de 2025, a literatura brasileira perdeu dois grandes expoentes: o casal de escritores Marina Colasanti e Affonso Romano de Sant’Anna.
Etíope de nascimento, com mais de 70 livros publicados no Brasil e no exterior, Marina Colasanti participou de diversas edições da Semana Literária & Feira do Livro do Sesc PR, percorreu o estado emocionando o público ao relatar a sua experiência com a literatura e sua trajetória durante a 2ª Guerra Mundial, até chegar ao Brasil, em 1948, com 11 anos de idade. “Mesmo no meio de uma guerra, a Europa não perdeu a cultura da leitura. Durante todas as mudanças que vivemos, não levávamos nada além de um anel de diamantes que minha mãe tinha costurado na barra da saia para ser usado em alguma emergência. Não tínhamos brinquedos, nem brincávamos na rua. Meus pais contavam histórias para mim e meu irmão. Até que nos presentearam com uma coleção de livros clássicos da literatura. Acredito que ninguém tem bom texto à toa, é preciso leitura”, pontuou Marina.
Em outra oportunidade, ao falar sobre como a literatura pode ser reinventar para conquistar o interesse dos mais jovens, a vencedora do Prêmio Machado de Assis e de nove Jabutis, foi enfática ao dizer: “o que tem que se reinventar não é apenas a literatura, é o cotidiano, as relações, o modo como enfrentamos a vida. Mas eu não usaria a palavra ‘reinventar’. Na progressão do mundo, nada se reinventa, tudo evolui, tudo avança, sem apagar o passado e assimilando o presente”, salientou.
O escritor, poeta, cronista e ensaísta mineiro, Affonso Romano de Sant´Anna, responsável pela palestra de abertura da 32ª edição da Semana Literária & Feira do Livro, pontuou que a formação acadêmica e o acesso à informação são requisitos indispensáveis para o progresso. “Até hoje, nenhum país se tornou de primeiro mundo sem passar pela porta da faculdade e da biblioteca. Estas são condições sine qua non”.
O escritor mineiro foi responsável pela criação do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), em seu período como presidente da Biblioteca Nacional e em vigor até hoje, autor de mais de 60 obras publicadas – considerado pelo crítico Wilson Martins como o sucessor de Carlos Drummond de Andrade, por desenvolver sua linguagem poética – também participou da edição de número 30, em Paranavaí, levando ao público uma reflexão sobre Literatura e Sociedade.
Marina Colasanti e o Affonso Romano de Sant´Anna foram casados por 54 anos e compartilharam não apenas uma vida, mas a paixão pela literatura e pelo conhecimento. Aos 87 anos, os dois deixaram um legado inestimável, inspirando novas gerações a abrir as portas da leitura e da reflexão.
Quarenta e quatro edições
Todos os anos, inúmeros autores são convidados a percorrer o Paraná pelo Sesc PR, e o público tem a oportunidade de um encontro único, como contou Ignácio de Loyola Brandão, em crônica publicada em 2012, no jornal O Estado de São Paulo. “Autores como Marina Colasanti, João Gilberto Noll, Luiz Henrique Pellanda, Luiz Andrioli, Nivaldo Kruger, Angela Ruski, Nobert Heinz, e eu, levados pelo Sesc, atravessaram o interior do Paraná, cruzando-se em algumas cidades. Uns na direção inversa dos outros, conversando com o público. Fazia anos que não penetrava no interior do Paraná. (…) Na noite anterior tínhamos ido dormir quase à meia-noite, após uma conversa inesquecível no Sesc local. Ao final, fomos rodeados por estudantes e professores para os inevitáveis autógrafos e fotografias que pipocam na rede social minutos depois.”
O evento já homenageou algumas personalidades ao longo dos anos, como Euclides da Cunha, Antonio Candido, Rubens Fonseca e Manoel de Barros, Domingos Pellegrini e Paulo Leminski. Em 2025, a Semana Literária & Feira do Livro será realizada de 13 a 17 de agosto, em 27 cidades paranaenses e prestará homenagem aos 100 anos do nascimento de Dalton Trevisan.