Sesc PR
Paraná

Entrevista com Ana Rapha Nunes

Apaixonada por palavras e pela formação de leitores

Por Silvia Bocchese de Lima
Crédito imagem: Acervo pessoal

Foi a paixão pelas palavras que fez  Ana Rapha Nunes estudar Letras e, por muitos anos, atuar em sala de aula como professora. Publicou seu primeiro livro em 2015 e esse foi o passo para que ela pudesse se dedicar exclusivamente ao universo da literatura e da formação de leitores. Tem no currículo mais de 25 obras publicadas e coleciona reconhecimento e premiações. Algumas das obras já ganharam ou foram finalistas de prêmios como Jabuti – que é uma das mais importantes premiações da literatura brasileira –, do prêmio Outras Palavras, um concurso literário promovido pela Secretaria de Comunicação Social e Cultura do Paraná, e o Image of the Book, organizado pela Agência Russa de Imprensa e Comunicação de Massa e pela Associação dos Artistas Gráficos de Moscou.

Além disso, Ana Rafa estará conosco na 43ª edição da Semana Literária Sesc & Feira do Livro, que ocorrerá de 7 a 11 de agosto, em 27 cidades do Paraná. E ela também assina a curadoria da nona edição da Coletânea Sesc de Contos Infantis deste ano.

Confira a entrevista:

Você tem um projeto em parceria com o também escritor e sociólogo Walmir Farias, que é o Prosa Literária. Esse projeto já percorreu mais de 300 escolas de todo o Brasil. É recorrente em suas palestras você abordar o papel da leitura, da literatura e da cultura na formação humana. A literatura que é dedicada à infância tem, sem dúvida, um forte compromisso com a formação dos leitores e leitoras, com a ampliação do imaginário, do olhar diverso da criança para com o mundo. Como funciona o Prosa Literária e o que você tem vivenciado e presenciado nessa sua andança pelo país sobre o papel do livro, da leitura e da literatura na formação do indivíduo e na transformação social?

O Prosa Literária surgiu da necessidade de aproximar as crianças e os jovens dos livros. Como vamos ser um país de leitores se a gente não fala de livro? Daí veio a vontade de estar junto dos estudantes e dos professores, falando de literatura, mostrando como um livro nunca vai ser algo ultrapassado, porque ele proporciona experiências únicas que a gente não encontra em lugar nenhum, não é mesmo? Eu vejo hoje que precisamos, enquanto sociedade, de mais eventos literários, de mais escritores circulando nas escolas, de mais espaço na mídia para o livro. Enfim, o livro precisa estar em pauta. Como dizia o Antônio Cândido, que eu gosto muito, “a fruição da arte e da literatura é um direito inalienável”. E não tem povo ou indivíduo que possa viver sem a literatura, ou seja, sem entrar em contato com alguma espécie de fabulação. O livro tem um papel humanizador que é tão fundamental. Por onde eu passo, eu vejo que sim, as crianças, os adolescentes, os adultos têm interesse por livros, mas é preciso mais espaço para a literatura. É preciso fazer o livro chegar até essas crianças. Não formamos leitores pela internet. A criança tem que encontrar o livro para poder despertar o interesse e o gosto pela leitura. E o Prosa Literária é isso. É na escola com as crianças, conversando sobre livros, contando histórias, enfim, aproximando crianças e adolescentes, e por que não os adultos? Os professores também acabam participando, às vezes os pais também. Aproximá-los dos livros, da literatura, para que eles possam perceber o quanto um livro é encantador.

Durante a realização da edição deste ano da Semana Literária e Feira do Livro, o Sesc também vai fazer o lançamento da nona edição da Coletânea Sesc de Contos Infantis. Este material tem o compromisso de incentivar escritores paranaenses e também ter o estado do Paraná como pano de fundo dessas histórias. Em 2024, você foi a curadora desta coletânea. Como foi essa experiência?

Foi uma experiência única e incrível ser curadora dessa coletânea. Ter contato com tantos textos, com estilos e narrativas tão diferentes, e ao mesmo tempo, elas eram unidas, como se em um colar, com um tema, que eram os elementos do nosso estado. Podemos ver o olhar de cada um sobre esses elementos, como ele traz isso para dentro da história. É muito bacana ver as pessoas se interessando pela arte da escrita, em construir uma história, compor uma frase, trazer uma ideia. Desde os primórdios, as histórias nos aproximam como seres humanos. Nelas, nós fazemos fabulações da própria vida. Um autor que eu admiro muito é o Bartolomeu Campos de Queiroz que dizia que a escrita torna palpável duas emoções intocáveis: o passado e o sonho. Escrever é preservar o passado, também promover rupturas. Vejo que essa é uma iniciativa muito importante do Sesc Paraná, que incentiva a produção literária, o surgimento de novos escritores e o gosto pela literatura.

O tema da nossa Semana Literária é Poesia em Toda Parte, nos fazendo lembrar que nós podemos encontrar beleza, profundidade e emoção por onde quer que nós olhemos. Basta ajustarmos este olhar. Trazer o Paraná como temática dessa coletânea de contos é também uma forma de mostrarmos a escritores e a leitores, todo esse potencial que o nosso estado tem para despertar emoções na literatura.

Com toda certeza, Sílvia, pois a poesia está ao alcance dos nossos olhos. Muitas pessoas me perguntam de onde vem a minha inspiração para escrever. Pensando nisso, eu gosto de citar o grande escritor Eduardo Galeano: “os cientistas dizem que nós, seres humanos, somos feitos de átomos, mas os passarinhos me contaram que nós somos feitos de histórias.” Eu acho linda essa frase. A minha inspiração para a escrita vem da própria vida. A nossa vida é cheia de histórias. Se olharmos  à nossa volta, histórias estão acontecendo o tempo todo. E a poesia está aí junto. É só a gente esticar o olhar. A Adélia Prado, que ganhou recentemente o Prêmio Camões, tem um trechinho que diz assim também: “Um trem de ferro é uma coisa mecânica, mas atravessa a noite, a madrugada, o dia. Atravessou minha vida, virou só sentimento.” Está aí a poesia, está no nosso olhar. É só um trem de ferro ou tudo o que ele significa, tudo que ele pode despertar em nós, não é mesmo? Eu vejo que a coletânea trouxe, sim, essa possibilidade de aprofundarmos o nosso olhar no cotidiano, no que está à nossa volta, e transformar isso em palavra, em história, em poesia.

Ana, algumas pessoas têm vontade de contar e colocar uma história no papel, mas muitas vezes elas não sabem como ou por onde começar. Como você é escritora e curadora da coletânea, eu vou pedir para que você possa dar algumas dicas sobre esse gênero, o conto. O que ele tem de diferente dos demais gêneros literários? O que não pode faltar nesse tipo de narrativa? E que passos os nossos futuros escritores devem dar?

Isso é uma coisa que eu dizia para os meus alunos, na época que eu lecionava: Vai começar um texto? Comece. É preciso começar. Às vezes, esperamos ter toda a história pronta na cabeça ou ter uma grande ideia para começar a escrever. E, às vezes, é mais fácil você já ir anotando o que você está pensando. Então, você ainda não conseguiu um desfecho ou não conseguiu o momento mais interessante da sua narrativa, a ideia mais importante, mas você já tem uma ideia, uma noção. Você vai colocar, vai anotar isso no papel para não perder. No caso do conto, a história vai gerar em torno de um conflito. Como eu posso fazer essa ideia ser um conflito? De que maneira eu trago esse conflito? Pensar também no tipo de narrador é fundamental. Quem vai contar essa história é um narrador em terceira pessoa, onisciente, que tudo sabe, tudo vê, mas não participa da história? Ou não, eu vou escolher um narrador em primeira pessoa, a partir da experiência dele. Então, ele vai ser um personagem envolvido na história e vai trazer o ponto de vista dele, dessa situação. Isso é muito importante também. A escolha do narrador é decisiva para o tom, para a continuidade dessa história, desse conto. Pensando em conto-lenda, temos que lembrar dos personagens e lembrar que o conto é um gênero textual mais curto, com menos texto. Tem que cuidar para não colocar muitos personagens, para não colocar muita história paralela, um excesso de informação que pode comprometer a fluidez do texto. Em geral, você vai circular a história em torno daquele conflito, daqueles personagens, sem trazer essas outras histórias secundárias, para que seja um conto, para você ter como objetivo esse texto curto. E, claro, não podemos esquecer da linguagem e do trabalho com ela, afinal, se estamos falando em literatura, também falamos  na arte da palavra. É preciso lapidar essa história. Eu gosto, particularmente, de lapidar a história depois que ela está pronta. Aí é o momento de você ver a repetição de texto, escolher as palavras de acordo com a narrativa, as figuras de linguagem que são fundamentais, as metáforas. Tudo para contar aquela história da melhor maneira, da melhor forma. Não é preciso esperar chegar aquela grande ideia, aquela grande história. Comece. Às vezes de uma coisa simples, de uma ideia simples, e comece. Escrita também é fazer e refazer. Escrever e reescrever. É preciso descansar o texto, aquele olhar de novo, ler uma vez, ler duas, ler três, ler quatro vezes. É necessário esse ir e vir no texto, ler, reler, ler, reler, para o texto ir ganhando realmente a forma que a gente gostaria que ele tivesse, ou seja, a melhor forma para aquele texto. Acaba não sendo só escrever o texto, mas também reescrever o próprio texto, várias vezes, e nesse ir e vir, nesse ler, escrever, reescrever, muitas vezes outras ideias vão surgindo, alteramos uma coisa, outra coisa, e o texto vai ganhando vida realmente. E vamos trazendo isso pra história. Por isso que eu digo, tem que começar. Se ficar esperando aquele grande momento, parece que é difícil você ter tudo articulado, porque é no próprio exercício do escrever e reescrever que muita coisa interessante vai surgindo.

Você pode dar alguns spoilers das histórias que o público vai encontrar na coletânea deste ano? Me parece que tem bailarinas em museus, boitatás, flores de café, detetives. É isso mesmo?

Eu tenho que ter cuidado, senão eu não dou spoiler e entrego tudo. não posso. Tenho que ter cuidado. O leitor vai encontrar bailarina em museu, boitatá, flor de café, gralha azul, enfim. Eu digo que eu gostei muito do resultado, porque apesar de ter o mesmo pano de fundo, ou seja, elementos do estado, ficou bem diversificado, trouxe vários contextos. Ali teremos um texto mais poético – que eu adoro –, textos com mais humor, com mais aventura, tem aqueles de mistério – que eu particularmente também gosto muito. Uma coisa que me chamou a atenção são as relações familiares, a criança como protagonista da história e as relações familiares, as lembranças. Tenho certeza que são histórias que vão agradar não apenas as crianças, mas também aos jovens, aos adultos, porque elas conversam com as nossas infâncias. Não podemos esquecer de falar da parte gráfica, porque a coletânea ficou muito linda, que traz a arte da Pac Calory. Está muito bonita, com histórias encantadoras.

Não é a primeira vez que você participa conosco da Semana Literária. Ano passado, você esteve em Guarapuava, ministrou uma oficina sobre a formação do leitor para professores da cidade e também da região centro-sul do estado. Neste ano, além da Curadoria da Coletânea, você também vai participar como oficineira e palestrante em Umuarama. Conta para a gente como foi a experiência do ano passado, E, neste ano, como vão ser esses momentos? Para que público você vai falar? E o que vai ser abordado?

Eu sempre fico muito feliz de participar da Semana Literária do Sesc e todas as vezes é muito gratificante. Ano passado foi uma experiência incrível. O público é sempre muito participativo, acolhedor. Eu conversei com estudantes e professores não só de Guarapuava, mas também de Pato Branco e de Francisco Beltrão e um dos momentos que me marcou foi a minha ida a uma escola pública de Ensino Médio noturno, lá na região de Pato Branco. Nos deslocamos até a escola. Foi um momento para mim inesquecível ver como a literatura vem transformando a vida daqueles estudantes, porque tanto eles como os professores relataram o impacto dos livros na vida deles, de como eles começaram a se interessar por literatura e os impactos que isso trouxe, como trouxe mudanças para a vida deles. Foi muito emocionante o depoimento dos alunos, das professoras, muito bacana. Nesse ano eu tenho certeza que vou vivenciar novamente outros momentos encantadores, dessa vez com o pessoal lá de Maringá e de Umuarama. Estou bem animada. Vamos ter oficina para os professores, bate-papo para a população em geral e vamos conversar sobre literatura, sobre experiências leitoras. Vai ser incrível, tenho certeza.

Ana, você traz para o público infanto-juvenil o lúdico, a fantasia, mas também você apresenta temas do cotidiano, como o crime ambiental em Mariana. Você traz a realidade social, o primeiro amor, a vida conectada, as amizades, a simplicidade. Quais são os desafios de falar para esse público e qual é a importância de se abordar estes temas pensando na aprendizagem e na compreensão e no desenvolvimento socioemocional deste público.Eu vejo que o desafio de falar para o público infantil-juvenil é o todo escritor: contar uma boa história, daquelas que prendam a atenção, que mexam com os nossos sentimentos, que façam a gente sair do livro diferente do que a gente entrou. Gosto de contar histórias para as crianças, mas que, de alguma forma, essas histórias também encontrem a infância dos adultos. Acho importante a fabulação, o lúdico, a metáfora, mas também gosto de trazer o contexto social, histórico, a realidade. Eu vejo que não são lados opostos, mas que se complementam, que nos fazem perceber a ambivalência, a contradição, a dualidade da condição humana. Tenho certeza que tais elementos são cruciais para o que a literatura pode despertar nos jovens e em todos os leitores.

Em menos de nove anos, você já tem 27 livros publicados. São quase três livros por ano. Como é que se dá o seu processo criativo?

O meu processo criativo é bastante caótico. Não sou aquela escritora que faz roteiro, planejamento, que planeja detalhadamente cada situação de cada personagem que vai ter na história. Eu não consigo funcionar dessa forma. Não adianta! Eu gosto de escrever mais de uma história ao mesmo tempo. Da mesma maneira que eu gosto de ler mais de um livro ao mesmo tempo, eu também gosto de escrever. E não me confundo, pelo contrário, porque parece que uma história vai alimentando a outra Como é que eu costumo fazer o meu processo criativo? Eu anoto as ideias que vou tendo e crio histórias a partir delas. Não sou aquela que gosta de perder ideia. Anoto às vezes no celular, num caderninho que está na bolsa, mas eu vou anotando ideias que vou tendo. Tenho vários documentos aqui no meu computador, de ideias para livros, ideias para colocar, às vezes, dentro de uma narrativa já maior. Tem outros documentos também, que são os livros já iniciados, e que eu estou trabalhando neles. É assim que eu funciono. Às vezes, quando acontece da história travar, o tal da página em branco, que todo escritor tem medo, eu paro, deixo aquela história descansar um pouco e até voltar nela, vou para outras histórias. Quando eu volto para ela, já tendo lido outras coisas, escrito outras coisas, visto outras coisas, aí de repente, às vezes, já vem alguma coisa assim e eu falo: agora é hora de continuar. Não tem um tempo definido pra isso. Algumas vão ser uma semana, algumas vão ser um mês ou dois, outras, se bobear, até um ano já aconteceu de deixar a história ali. Comecei, mas não vejo saída, deixo, esqueço. Algumas vezes, muito tempo depois, surge uma ideia que se encaixa naquela história que eu abandonei há mais de um ano e eu volto. Outra coisa que eu faço também, eu gosto muito de trabalhar a linguagem porque eu gosto muito de escrever em prosa poética, que requer cuidado com a linguagem e o tempo. Adoro essa parte do texto. Depois que eu escrevo, reescrevo a mesma história inúmeras vezes, até achar o tom certo, a palavra adequada para aquele contexto. Toda história pode ser escrita eternamente, porque você pode ficar ali escrevendo, reescrevendo, escrevendo, reescrevendo, muda uma coisa, tem sempre alguma coisa a acrescentar, melhorar, fazer de outro jeito. Há infinitas possibilidades. Mas quando eu acho que é aquele momento de desapego do texto, aí eu vou trabalhar a linguagem e é questão do tempo mesmo, para lapidá-la. Acontece a mesma coisa com a narrativa. Às vezes, vou fazer essa lapidação em alguns meses, às vezes em mais de um ano. Vai depender do processo, do texto. Eu gosto bastante, porque cada vez que você se afasta do texto e volta, aquilo vai te trazendo outras percepções. É muito importante no meu processo criativo esse tempo, o tempo da narrativa e o tempo da linguagem.

Ana, por favor, traga um trecho de alguma das suas obras, tenha um significado especial para você e conte para a gente o motivo dessa escolha.

Este é um trecho do livro Segredos de uma Vida no Museu, que escrevi com ilustrações do Logan Portela, publicado pela Editora Inverso, em 2018. Esse livro conta sobre o incêndio que aconteceu no Museu Nacional no mesmo ano e tematiza os significados que a cultura pode despertar em nós e também os perigos de não a preservarmos. Esse livro também tem um gostinho especial para mim, pois com ele eu cheguei pela primeira vez entre os finalistas do Prêmio Jabuti de Literatura na categoria Infantil. Então vamos lá conhecer um pouquinho do segredo de uma vida no museu.

“Até que chegou mais um domingo, 2 de setembro, o mês da primavera dando o ar de sua graça. O dia transcorreu como de costume, sapatos que iam e vinham riscando o chão do museu, quase numa sinfonia orquestrada, olhares inebriados por tantas descobertas, sorrisos escancarados para mais uma fotografia. A noite foi chegando devagar, e quando as estrelas começavam a manchar o céu, como pinceladas em um quadro de Van Gogh, o inesperado já alarmado aconteceu. Naquela noite de domingo, as chamas começaram a faiscar, ardentes, robustas. Tornaram-se gigantes a devorar cada cantinho daquele lugar. Nunca mais as múmias egípcias trazidas pelo imperador. Nunca mais Luzia, o primeiro fóssil das Américas. Nunca mais os dinossauros brasileiros. Nunca mais as lembranças de Dom João VI. Nunca mais o sorriso estampado no rosto da criança que passeava por aqueles corredores. Nunca mais o olhar curioso de quem nunca tinha pisado naquelas tábuas de madeira. Nunca mais os pensamentos inquietos, desvelando cada detalhe. Acabou. O fogo consumiu. A ignorância levou. O descaso enterrou. A esperança deu lugar à revolta, que trouxe a desolação, a tristeza, a indignação. Tantas vozes habitavam aquele museu, foram caladas para sempre. E Bendegó ali, ardendo, febril, entregue ao fogo. Seus amigos, um a um, partindo. Ele resistiria a tamanha dor? Um filme foi passando diante de si. O tempo vagando na solidão do universo, os dias de calor e esquecimento na Caatinga, os olhos ternos de seu amigo Domingos, o momento em que rolou o Ladeira Baixo, a chegada de Dom Pedro, a viagem na Maria Fumaça, os dias de glória no museu, pequena grande Lídia. Aos poucos, o fogo foi diminuindo. As cinzas cobriram o local. As paredes ainda erguidas, um filete de esperança. E lá estava ele. Sem sua imponência de costume. Apenas um meteoro de Bendegó. Mais uma história para contar. Uma tristeza sem precedentes. Estava ali, em meio aos escombros, entre vozes e silêncios. Não era mais o mesmo. Vi o choro das pessoas, sentia a ausência dos amigos. Bendegó renascia diante das cinzas, novamente a companhia da solidão. Porque nem toda história tem um final feliz. Era preciso ter olhos de criança para esperançar um novo amanhã”.

Confira toda a programação da Semana Literária AQUI. Você também pode ouvir a entrevista da Ana Rapha Nunes no Spotify. Participe e compartilhe com seus amigos.